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O termo filosofia vem do grego e é formado pelas palavras filos, que significa “próprio de”, “pertencente a”,  “amigo de”, “amante de”, e sofia, que geralmente é traduzido por “sabedoria” ou “conhecimento”. Embora tenha tido muitas definições, há uma com sentido mais amplo e consensual: a filosofia é o amor pela sabedoria e pela busca do conhecimento.

O conceito de filosofia teve várias aplicações, fato que fica refletido nas definições que foram enunciadas ao longo da história do pensamento: “a filosofia inclui a totalidade do saber na medida do possível (…), a filosofia é a ciência teórica dos primeiros princípios e das primeiras causas” (Aristóteles); “a filosofia não é uma ciência pura e teórica, é uma regra prática de ação” (Epicuro); “a palavra filosofia significa o estudo da sabedoria (…) e por sabedoria entendo o conhecimento das coisas que o homem pode saber para conduzir sua vida, para a conservação da saúde e para a invenção das artes” (René Descartes); “não se pode aprender filosofia, apenas se pode aprender a filosofar” (Immanuel Kant); “filosofia é o pensamento mediante o qual tomo consciência do próprio Ser, por meio de ação interior” (Karl Jaspers); “o objeto da filosofia é o esclarecimento lógico do pensamento” (Ludwig Wittgenstein); “a filosofia atende a nossa necessidade de formar uma concepção unitária e total do mundo e da vida” (Miguel de Unamuno); “se há alguma coisa na filosofia que se possa considerar ensino, só pode ser ensinar a pensar a partir de si próprio” (Nelson Goodman); entre outras.

Independentemente dos pontos de vista diferentes, todas estas definições partilham um fundo comum relacionado à definição inicial. A filosofia é amor pela sabedoria, ou seja, amor ou tendência ou procura daquilo com que se pode explicar a realidade e o homem. Tem sido essa a busca de todos os filósofos. Aristóteles afirmou que a intenção de explicar a realidade é inseparável do conhecimento de suas causas: explicar algo de modo completo é conhecer suas características e suas causas. Daí que definisse a filosofia como o conhecimento dos primeiros princípios e causas nos quais radicam todas as coisas à luz da razão, definição que relacionava a filosofia com a metafísica e que fazia dela uma ciência (um conhecimento rigoroso das causas).

Estas linhas se restringem ao âmbito da filosofia ocidental, que tem a sua origem na Grécia do séc. VIl a.C. Mas também é necessário destacar o interesse e a força crescente do pensamento oriental nos seus dois focos mais importantes: a Índia e a China.

 

A filosofia como atitude

Definir a filosofia — se possível — implica uma atitude filosófica. Segundo Kant, “só se pode apreender filosofia filosofando”. Podemos nos perguntar, então, o que é a filosofia e refletir sobre a atitude filosófica e a sua diferença em relação a outras disciplinas.

A filosofia nasce quando o homem desafia o insólito, aceita a dúvida, questiona suas certezas e suas crenças ou quando é capaz de ver algo de outra perspectiva. A atitude básica e fundamental para despertar para a filosofia é a curiosidade: “Foi a admiração o que levou inicialmente os homens a filosofar. Procurar uma explicação para as coisas, admirar-se, é reconhecer que elas não são conhecidas. Por isso, se filosofar foi num primeiro momento uma fuga da ignorância, é evidente que os primeiros filósofos procuravam o saber, movidos pela ânsia de conhecer” (Aristóteles). Aristóteles também afirmou que toda pessoa é, de certo modo, filósofa, porque a tendência para o saber — para a sabedoria — é intrínseca ao ser humano.

Os primeiros pensadores filosofaram sobre o que se encontrava numa relação natural: a sucessão do dia e da noite, a mudança das estações, o nascimento, o crescimento e a destruição das coisas da natureza, as relações justas entre os homens, a bondade e maldade dos seus atos.

Muitas vezes, a curiosidade natural típica da infância é perdida na vida cotidiana. A falta de tempo, a equivocada ideia de que a filosofia não é necessária no dia-a-dia, ou que a constante interrogação sobre o sentido das ações pode se tornar uma inutilidade incômoda levam o ser humano a desconsiderar uma importante dimensão da vida, à qual está ligado o próprio sentido da sua experiência cotidiana, a do questionamento filosófico. Pode-se ilustrar este último ponto com um exemplo tomado de Martin Heidegger, filósofo alemão do séc. XX. Para este autor, perguntar pelo sentido que têm as coisas é uma maneira de caracterizar o tema da filosofia.

O significado que têm as coisas que rodeiam o homem também é procurado por outros saberes: as ciências, a religião, a experiência que se obtém através dos sentidos, etc. Estes saberes também se interrogam sobre muitas coisas. Isto pode ser ilustrado por atitudes diferentes. Tome-se como tema o homem. Como objeto material, o homem pode ser estudado do ponto de vista biológico, sociológico, psicológico ou antropológico, mas nenhum destes tratamentos proporciona uma resposta para a pergunta filosófica: O que é o homem, ou que sentido tem a existência humana, ou qual é o lugar do homem no universo?

 

A filosofia como atividade

A filosofia é mais uma atividade do que um conjunto de saberes. Segundo Platão, no diálogo Eutidemo: “A ciência de que precisamos é a que reúne o saber fazer e o saber usar aquilo que se faz. Isto é, o saber filosófico se funde com a ação. Esta concepção existe desde a Antiguidade. Dizia Epicuro: “A filosofia não é uma ciência pura e teórica, é uma regra prática de ação, ou seja, ela própria é ação, energia que procura, pelo discurso e pelo raciocínio, a vida feliz; A mesma linha é seguida por Wittgenstein: “A filosofia não é nenhuma doutrina, mas sim uma atividade” (Tractatus logico-filosoficus).

Na realidade, existem dois grandes modelos para abordar a filosofia: O primeiro é pôr a filosofia em prática, por meio da própria reflexão, e o segundo é estudar o que os outros pensaram.

No primeiro caso, trata-se de uma atividade pessoal, criativa, que faz com que as eternas questões revivam em cada indivíduo, que atua como um descobridor ou criador. A segunda opção é mais acadêmica, está relacionada com a erudição e com saber o que pensaram os demais indivíduos.

Algumas das tarefas da atividade filosófica são:

  • Mostrar a maneira que o homem tem de compreender e explicar a realidade.
  • Analisar conceitos e esclarecer significados. A filosofia se concentrou em alguns conceitos fundamentais: verdade, beleza, justiça, bondade, etc.
  • Considerar a validade dos processos de raciocínio.
  • Pesquisar que consequências acarreta defender uma ou outra ideia. O filósofo procura um saber absoluto, definitivo, que se baseie em si próprio, que não dependa de modas, crenças locais, opiniões ou costumes.

 

Os filósofos

Filósofo é um autor que apresenta um conjunto de opiniões e ideias interligadas sobre a experiência humana em geral ou sobre algum aspecto da realidade. Se analisarmos a história do pensamento, encontraremos uma grande variedade de filósofos. Formam um conjunto muito heterogêneo, pois foram pessoas que pertenceram a classes diferentes, com interesses pessoais e profissionais diversos. Uns foram aristocratas, como Platão, outros provinham de famílias de profissionais, como Aristóteles. Epicteto, por sua vez, era escravo. Marco Aurélio foi imperador e Diógenes, um marginalizado. Alguns tiveram cargos eclesiásticos: Santo Agostinho foi bispo de Hipona, Santo Anselmo, Arcebispo de Canterbury e George Berkeley, bispo anglicano. Outros tiveram ocupações ou cargos públicos, como Thomas More e David Hume. Alguns foram professores: Sócrates, Platão e Aristóteles no mundo clássico, santo Tomás de Aquino e Guilherme de Occam, na Idade Média. Na época moderna, a profissão de preceptor ou professor universitário é a mais frequente: Galileu, Hobbes, Kant, Hegel, Heidegger, Husserl, Sartre, Popper, Foucault, etc. Mas houve também filósofos com profissões curiosas: Descartes foi militar, Spinoza, polidor de lentes e Locke, médico.

No entanto, pode-se dizer que há um traço comum a todos esses filósofos. São indivíduos que têm o interesse ou a necessidade de pensar sobre certos temas e de tratá-los de determinada maneira

  • Temas: alguns filósofos, entre os quais estão Platão e Aristóteles, dedicaram sua vida à reflexão sobre a natureza, sobre o mundo físico, sobre o universo e sobre o conhecimento destas realidades. Outros tentaram explicar e justificar atitudes e crenças religiosas: Santo Alberto Magno, Duns Scotus, Giordano Bruno. Alguns físicos ou matemáticos, como os pitagóricos, Descartes e Leibniz, interpretaram o sentido das suas teorias científicas de um modo filosófico. Locke e Marx filosofaram sobre os efeitos das mudanças na organização da sociedade. Os sofistas, Guilherme de Occamte Wittgenstein pesquisaram sobre a linguagem. A lógica ocupou também muitos autores: Aristóteles, os estóicos, Leibniz, Bertrand Russell, etc.
  • Reflexão: alguns filósofos refletiram a partir de sistemas globalizadores que explicam de forma homogênea e unitária uma visão do mundo: Platão, Aristóteles, Kant, etc. Outros trataram aspectos importantes do mundo circundante, como os valores (Nietzsche), a existência (Heidegger e Sartre), o conhecimento (Popper) ou a linguagem (Wittgenstein).
    O filósofo é um indivíduo que se dedica a procurar a trama da vida e do mundo e que pretende dar respostas às perguntas fundamentais de uma forma sistemática.

 

Características da filosofia

Embora seja difícil fazer generalizações que consigam abranger mais de 25 séculos de filosofia, pode-se dizer que há características comuns que definem alguns aspectos básicos desta disciplina:

  • É uma disciplina transversal: está presente e atravessa todas as demais disciplinas. É, portanto, uma disciplina de disciplinas.
  • É uma disciplina integradora da multiplicidade: a atitude filosófica responde à necessidade de unificação, de coesão dos diferentes conhecimentos, partindo da unidade que se supõe que estes devem ter.
  • É uma disciplina holística: engloba tudo, tem pretensão globalizadora, pois procura o fundamento comum em tudo.
  • É uma disciplina que transforma o método em conteúdo: a filosofia é a única ciência que reflete sobre o papel, a utilidade e a validade do método que utiliza para os seus conhecimentos e conclusões.

 

As perguntas radicais

Partindo de todos os saberes, o ser humano quis procurar resposta para todos os enigmas e mistérios que o rodeiam. Tentou resolver problemas práticos e fabricar os instrumentos de que precisava para poder ampliar seus conhecimentos. Ainda assim, sua curiosidade não foi totalmente satisfeita, porque, solucionadas algumas questões concretas, ainda restam perguntas fundamentais sobre o seu próprio destino individual e coletivo, sobre as causas e consequências de sua existência, sobre o sentido das perguntas que o ser humano faz a si mesmo, etc. Buscar tais respostas é o que diferencia a filosofia das ciências positivas.
Depois de todas as interrogações, formula-se sempre a mesma pergunta: o que é o ser humano? Kant afirmou que, no fundo, a filosofia tenta dar resposta a quatro perguntas:

  • O que posso saber?
  • O que devo fazer?
  • O que posso esperar?
  • O que é o homem?

A partir da quarta pergunta pode-se responder às outras três. A última tem caráter de resumo, de compêndio de todas as possibilidades humanas.

 

Origem da filosofia

Embora a etimologia da palavra filosofia remeta para a ideia de sabedoria, essa noção, em outros tempos, era entendida com diversos sentidos: como habilidade, destreza, perícia para resolver problemas. Heráclito utilizou a expressão to sofon para se referir ao saber em geral, ao saber que rege todas as coisas, ao cosmos, à ordem pela qual cada coisa ocupa o seu lugar no universo.

Algum tempo depois, sabedoria passou a designar a virtude que possui quem sabe emitir juízos reflexivos, não só teóricos, mas também práticos.

O texto mais antigo no qual aparece o termo filósofos pertence a Heráclito (séc. Vl a.C.). Segundo o anteriormente exposto, filósofo seria aquele que anseia possuir o saber que organiza o cosmos e vive o fato de pertencer a essa ordem. Platão (séc. V a.C.) escreveu que Sócrates era o mais sábio de todos os homens porque sabia que era ignorante, enquanto os outros julgavam que sabiam tudo, quando na realidade não sabiam nada.

Os primeiros filósofos, por volta do séc. VIl a.C., centraram a sua indagação na natureza e se questionaram sobre a origem (material ou imaterial) de todas as coisas. Muitas das perguntas que formularam deram lugar a respostas diversas ao lorigo da história do pensamento. Por exemplo, a pergunta “qual é o princípio pelo qual todas as coisas chegam a ser o que são” originou tanto especulações cosmológicas sobre a evolução e composição do cosmos, quanto especulações biológicas, sobre as condições em que se gera e mantém a vida, além de especulações físicas, químicas, etc. As perguntas dos primeiros filósofos não admitiam uma resposta única e final. Eram como chaves que, ao abrirem uma porta, davam acesso a diversos caminhos possíveis com mais portas por abrir.

Um tema que maravilhou os primeiros filósofos foi o de encontrar a ordem permanente na mudança constante da natureza. Assim, o ser humano é capaz de dizer coisas válidas, por exemplo, a respeito de todas as nuvens, embora estas mudem constantemente. Aparentemente, ao falar das coisas, O homem é capaz de enunciar verdades escondidas, não visíveis, que não só são certas para momentos transitórios, mas também para o passado e o futuro: não se poderá contemplar no futuro uma árvore que se queimou, mas o ser humano é capaz de identificar outra da mesma espécie e o tempo que demorará para germinar. O homem pode encontrar o conceito universal partindo de coisas concretas e particulares. Esta foi uma preocupação da filosofia grega: estabelecer um discurso que falasse da natureza Íntima das coisas (physis), que permanece idêntica no meio da multiplicidade das suas manifestações.

 

Divisão da filosofia

A partir do momento em que Aristóteles (séc. IV a.C.) definiu a filosofia como ciência que estuda os primeiros princípios e as causas de todas as Coisas pela razão, as primeiras opiniões dividiram-se em função dos pensadores que refletiram sobre a realidade. Portanto, qualquer divisão não é nem definitiva nem válida para todos os pensadores e todas as épocas. Procurando os aspectos mais comuns, é possível dividir a filosofia em três grandes blocos:

  • A realidade existente.
  • O conhecimento sobre essa realidade.
  • A ação humana sobre essa realidade.

A reflexão sobre “o real” é realizada a partir de um aspecto duplo, considerado como totalidade (metafísica), como realidade física (filosofia da natureza) ou como realidade psíquica (antropologia filosófica).

O alcance e a validade do conhecimento humano sobre a realidade sempre preocuparam o homem, que investigou as leis que regem as estruturas dos raciocínios válidos (lógica), as condições sob as quais são possíveis os conhecimentos (teoria do conhecimento ou gnosiologia; do latim gnoseo: conhecer), os métodos e limites do conhecimento científico (filosofia da ciência ou epistemologia; do grego episteme, ciência), e refletiu sobre a natureza da linguagem (filosofia da linguagem).

O ser humano, ao estabelecer relação com outros seres, pergunta-se pelo sentido, pelo fim, pela utilidade e pela correção de seus comportamentos. Assim, são criadas novas ramificações em função das ações concretas dos homens: a reflexão filosófica sobre a moral (ética), a beleza (estética), a filosofia política, o direito, a arte, a religião, etc.

Qualquer divisão que se fizer sobre os temas de reflexão filosófica não deveria induzir a pensar que cada um desses temas é independente dos demais. Portanto, uma determinada noção de justiça dará lugar a um código legal ou outro.

 

Utilidade da reflexão filosófica

Pode-se dizer que, em algum momento, todos os seres humanos filosofam. Em algum momento da vida, crianças, jovens e adultos se fizeram algumas das perguntas que já foram destacadas: o valor da vida, os enganos dos sentidos, a diversidade dos gostos ou sobre como atuar diante de determinado desafio.

A filosofia não consiste num conjunto de soluções práticas (neste sentido, é bastante ineficaz), embora procure soluções para os problemas: em filosofia, tanto as perguntas (sobre o homem, sobre a própria disciplina, etc.) quanto as respostas têm valor. Daí que Aristóteles tenha dito: “Todas as ciências são mais necessárias do que a filosofia; superior a ela, nenhuma:

Tal posição explica-se pelo fato de que a filosofia é o desejo e a procura de verdade. O seu objeto de estudo é a verdade (não a utilidade ou uma aplicação concreta e imediata): aquilo que o homem, o mundo ou a realidade são. Deste modo, o homem olha a realidade à procura daquilo que a fundamenta, independentemente das preferências individuais ou das características transitórias das circunstâncias. O motivo é que, como verdadeira ciência, ela procura causas que sejam universais, ou seja, para todos e para sempre. À Ignorância é o ponto de partida desta procura, como ilustra a famosa frase de Sócrates: “Só sei que nada sei: Só se o homem estiver consciente da sua própria ignorância poderá ter capacidade para aprender a filosofar.

 

A necessidade da reflexão filosófica

É possível perguntar que sentido tem filosofar ou estudar filosofia. Certamente, não se pode assegurar que tenha um efeito imediato para resolver os conflitos pessoais, embora possa ajudar. No entanto, filosofar é um esforço que vale a pena fazer, porque amplia a capacidade de compreensão. A filosofia ajuda a ordenar e dar significado às experiências: “O problema filosófico é a consciência da desordem que reina entre os conceitos, que pode ser resolvido pondo-os em ordem” (Wittgenstein).

Para ser plenamente humano, o homem deve desenvolver a qualidade que mais o distingue dos outros seres vivos, a racionalidade. Neste âmbito, Platão disse: “Uma vida sem refletir não vale a pena ser vivida!”

O motivo são as características da existência do homem: “O tempo da vida humana não é mais que um ponto, e a sua substância um fluxo, e as suas percepções falhas, e a composição do corpo corruptível, e a alma um redemoinho, e a fortuna inescrutável, e a fama algo sem sentido (…). O que pode guiar um homem? Uma única coisa, a filosofia” (Marco Aurélio).

Qualquer pessoa é conduzida a filosofar se quer exercer o seu direito a pensar. Assim o entendeu Albert Einstein: “Não é suficiente ensinar a um homem uma especialidade. Embora isto possa transformá-lo em uma espécie de máquina útil, não terá uma personalidade harmoniosamente desenvolvida. É essencial que o estudante adquira uma compreensão dos valores e uma profunda afinidade com eles. E necessário que adquira um vigoroso sentimento do que é belo e do que é moralmente bom. Se não for assim, com a especialização dos seus conhecimentos, vai se parecer mais com um cão domesticado do que com uma pessoa harmoniosamente desenvolvida.

A mesma linha de raciocínio é seguida numa contundente citação de Epicuro, da Carta a Meneceu: “Quando somos jovens devemos filosofar, e quando somos velhos não devemos deixar de filosofar. Nunca é cedo demais nem tarde demais para buscar a saúde da alma.”

De fato, filosofar é uma forma especial de se lançar à aventura, com todos os Ingredientes desta atitude: risco, paixão, obstáculos, etc. Como um explorador, o filósofo precisa de coragem, perseverança, valentia e rigor. O principal motivo é  que o homem, como ser cognoscente, tem a necessidade de explicar e de se explicar, de entender quem  é, que sentido tem a sua vida, por que existe o mundo, etc. A possível utilidade da filosofia está na resposta a estas perguntas, pois esta, embora não seja aplicável a uma tarefa concreta, orienta toda uma vida e, portanto, todas as tarefas que a compõem, mesmo que não as resolva diretamente.

 

 A Filosofia é um mapa.

Podemos comparar a filosofia a um mapa. Pode-se deixar uma pessoa numa cidade desconhecida e guiá-la pelas suas ruas. Pode-se explicar como se chama cada rua e como se chega a elas. Além disso, pode-se dizer como são os edifícios, como foram construídos e se obedecem a algum tipo de estilo artístico. Essa pessoa pode ainda ser levada aos lugares mais emblemáticos e importantes da cidade. Fará tudo isso a pé ou por qualquer meio de transporte, em função das características da cidade. Tudo isto lhe permitirá conhecer perfeitamente a cidade. Porém, para que sua compreensão seja total e ela possa se deslocar sozinha pela cidade, perguntará, mais cedo ou mais tarde, pelo seu nome, pela sua situação geográfica e pela distribuição das ruas no conjunto de toda a cidade: pedirá, pois, um mapa. Deste modo, tanto ela como aquilo que percorre e conhece estarão situados na sua mente — terá uma imagem global. A filosofia é assim, como um mapa. As diversas ciências tratam partes da realidade (as ruas), enquanto a filosofia estuda toda a realidade (a formação e distribuição das ruas): O seu fundamento e a sua imagem enquanto conjunto.